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Empresas feitas para vencer.

Recomendação de Leitura | Prof. Aloisio Sotero

A pandemia da Covid-19 trouxe para todos os setores produtivos e para as pessoas mais perguntas do que respostas. As empresas, particularmente, passam por grandes mudanças, quais sejam nos aspectos internos de reorganizar seus processos, tornando-os mais flexíveis e digitais, quanto também em sua cultura de olhar para o futuro. Nesse sentido, alguns impactos do Ano da Covid podem ser considerados propositivos, visto que acelerou transformações anteriormente adormecidas, por exemplo, como se tornarem sustentáveis diante de eventuais obstáculos inesperados. Algumas conseguiram crescer em seus segmentos. Outras, fecharam suas portas ou reduziram sua atuação.


Ao fazer essa reflexão, veio à mente, um livro publicado nos Estados Unidos, em 2001, com sua primeira edição em português, em 2015: “Empresas Feitas para Vencer” - por que algumas empresas alcançam a excelência, outras não, de James Collins. Esse livro fiz uma primeira leitura em 2017 e, em meio à pandemia, retornei para uma releitura, revisitei as minhas anotações e encontrei algumas respostas para esse momento da era da Covid-19. A obra nos traz excelentes lições de gestão e empreendedorismo. O autor Jim Collins é professor da Universidade de Stanford, pesquisador e consultor internacional, focado em gestão de negócios, sustentabilidade e crescimento.


Como professor, tenho paixão por ensinar e aprender. E, ao recomendar este livro, também descobri uma afinidade com Jim Collins, quando ele afirma: "No fundo, sou como um professor. E, como tal, é impossível não dividir o que aprendemos com tantos alunos mundo afora. E é dentro do espírito do aprendizado e do ensinamento que estou trazendo à luz este trabalho. Convido você a se juntar a mim numa aventura intelectual para descobrir o que é necessário para transformar o bom em ótimo. Incentivo-o, também, a questionar e desafiar aquilo que vier a aprender. Como disse certa vez um de meus professores prediletos: “Os melhores alunos são aqueles que nunca acreditam completamente em seus professores”.


As pessoas certas fazem a diferença


Um dos ensinamentos que o livro nos traz é que o resultado do sucesso de uma corporação não são as circunstâncias. São as pessoas. E mais, alerta Jim Collins: o velho adágio “as pessoas são seu ativo mais importante”, na verdade, está errado. As pessoas não são o seu ativo mais importante. As pessoas certas é que são. Aí está o segredo do sucesso das empresas excelentes: “primeiro coloquem as pessoas certas no barco, tirem as pessoas erradas, e coloquem as pessoas certas nos lugares certos". Simples assim, como afirma o autor.


O segundo ponto-chave é o grau de rigor absoluto necessário nas decisões sobre a escolha das pessoas certas, com o objetivo de transformar uma empresa boa em excelente. Em outras palavras, o que ele, o “Jim” quis nos falar: "Se você tem as pessoas erradas, não importa se você descobriu a direção certa; mesmo assim, não terá uma empresa excelente. Uma grande visão sem grandes pessoas é irrelevante. Visão sem as pessoas certas gera frustração e insucesso”. A frase é um conceito basilar de Collins fruto de sua pesquisa relatada no livro.


E porque existem tão poucas empresas excelentes?


"O bom é inimigo do ótimo”... Uma das possíveis razões para explicar porque existem tão poucas coisas que se tornam excelentes. As empresas “Feitas para vencer” não se concentraram prioritariamente no que fazer para se tornarem excelentes; elas se concentram igualmente no que não fazer e no que parar de fazer. Essa reflexão me faz lembrar Steve Jobs com sua clássica afirmação "prioridade se define pelo não vamos fazer”. Ou ainda, segundo Harry S. Truman: "Você pode realizar qualquer coisa na vida, desde que não se importe com quem vai levar o crédito”. Em síntese: "A excelência é em grande parte uma questão de escolha consciente", afirma Collins no seu livro .


O poder da cultura da disciplina


Já dizia Peter Drucker, o pai da administração moderna: "a cultura come a estratégia como café da manhã ", e assim a cultura destrói qualquer estratégia. E aí Collins lembra que todas as empresas têm uma cultura e algumas delas têm disciplina, mas poucas têm uma cultura da disciplina. Quando você tem pessoas disciplinadas, não precisa de hierarquia. Quando tem pensamento disciplinado, não precisa de burocracia. Quando tem ação disciplinada, atingir a excelência chega mais rápido.


O forte papel de uma liderança de alto nível


Os líderes de alto padrão, ao qual o autor intitula nível 5, canalizam as necessidades do seu ego para longe de si mesmo e na direção da meta maior, o de construir uma empresa que prima pela excelência. Não é que os líderes de nível 5 não tenham ego ou interesses próprios. Na verdade, são incrivelmente ambiciosos – mas sua ambição é voltada primeira e fundamentalmente para a instituição, não para si próprios. É muito importante compreender que a liderança não significa apenas ter humildade e modéstia. Significa, igualmente, uma vontade férrea, uma determinação quase estóica de fazer tudo o que for necessário para tornar a empresa excelente.


As empresas e os líderes “celebridades”


Líderes tipo "celebridades'' são associados inversa e negativamente à possibilidade de uma empresa passar de boa para excelente. Dez dos 11 executivos das empresas “Feitas para vencer” que figuram neste estudo vieram de dentro da empresa, enquanto as outras do grupo de comparação direta experimentaram executivos de fora com uma frequência seis vezes maior.


Os líderes das empresas “Feitas para vencer” compreenderam três verdades simples. A primeira: se você começa com “quem”, e não com “o quê”, pode se adaptar facilmente a um mundo em constante mudança. Se as pessoas sobem no barco em função de “para onde ele está indo”, o que acontece se você navega umas 10 milhas e precisa mudar o rumo? Passa a ser um problema. Mas, se as pessoas estão no barco por causa de outras que também estão lá, é bem mais fácil mudar a rota. “Ei, eu entrei nesse barco por causa das outras pessoas que também estão aqui; então, se precisarmos mudar o rumo para ter mais sucesso, por mim tudo bem”.


A segunda: se você tem as pessoas certas no barco, o problema de motivar e gerenciar pessoas praticamente deixa de existir. As pessoas certas não precisam ser excessivamente gerenciadas ou estimuladas; elas se auto-motivam pelo impulso interior de produzir os melhores resultados e ser parte da criação de algo grande. A terceira: dúvida, não contrate: continue procurando.


Uma das leis imutáveis da física gerencial é a “Lei Packard” (assim chamada porque tomamos conhecimento dessa lei pela primeira vez num projeto anterior de pesquisa de David Packard, cofundador da Hewlett-Packard Company). Ela diz assim: nenhuma empresa pode aumentar sua receita, de forma constante, mais rapidamente do que a sua capacidade de recrutar as pessoas certas em número suficiente para implementar esse crescimento – e ainda se tornar uma empresa excelente. Se a taxa de crescimento de sua receita supera consistentemente sua taxa de desenvolvimento de pessoas, você simplesmente não vai – e na verdade não pode – construir uma empresa que prima pela excelência.


Seja factual e evite suposições


Os fatos são melhores do que os sonhos. Um dos temas dominantes de nossa pesquisa é que os resultados revolucionários advêm de uma série de boas decisões acumuladas e diligentemente executadas. É claro que as empresas “Feitas para vencer” não trilharam um caminho perfeito. Mas, no todo, tomaram muito mais decisões acertadas do que equivocadas, do que as empresas do grupo de comparação.


Lidere com perguntas, não com respostas


A liderança não começa só com a visão. Começa na hora em que se leva as pessoas a encararem a realidade nua e crua e a atuarem em cima de suas implicações. Consumir tempo e energia “motivando” as pessoas é um esforço desperdiçado. A verdadeira pergunta não é: “Como é que vamos motivar o nosso pessoal?”. Se você tem as pessoas certas, elas se auto-motivam. A chave é não desmotivá-las. Uma das principais maneiras de desmotivar as pessoas é ignorar a realidade tal como ela é.


O conceito do porco-espinho


Uso aqui a minha experiência prática: saiba usar a sua perna boa. Fica tudo mais simples usar a perna boa. Na visão de Collins, seria como a simplicidade do porco-espinho .

O conceito do porco-espinho é um conceito simples e cristalino que flui do profundo entendimento da interseção entre os três círculos que se seguem: a atividade na qual você pode ser o melhor do mundo (e, igualmente importante, a atividade na qual você não pode ser o melhor do mundo). Esse padrão de discernimento transcende em muito a competência principal. Só o fato de você possuir uma competência principal não significa, necessariamente, que você pode ser o melhor do mundo naquilo. Inversamente, a atividade na qual você pode se tornar o melhor do mundo talvez não seja nem mesmo algo em que a empresa esteja engajada no momento que aciona o seu motor econômico.


A ideia aqui segundo o autor não é estimular a paixão, mas descobrir aquilo que o apaixona. As empresas “Feitas para vencer” são mais como os porcos-espinhos: criaturas simples e desengonçadas que sabem apenas “uma grande coisa” e se mantêm fiéis a ela. Em síntese: use a sua perna boa.


Tecnologia como acelerador


Empresas excelentes respondem com ponderação e criatividade, movidas por uma compulsão de transformar potencial não realizado em resultados; empresas medíocres reagem e tropeçam e usam a tecnologia motivadas pelo medo de ficar para trás. As empresas “Feitas para vencer” usaram a tecnologia como um acelerador, não como gerador de velocidade. Nenhuma das empresas que, antes eram boas e se tornaram excelentes, iniciou sua transformação sendo pioneira em tecnologia, no entanto, todas tornaram-se pioneiras na aplicação de tecnologias. A forma que uma empresa reage à mudança tecnológica é um bom indicador de sua motivação interna para a excelência, em oposição à mediocridade.


Ao fazer essa releitura do livro nos leva a compreender os pilares da excelência: pessoas certas nos lugares certos; a cultura da disciplina; fazer o simples mais rápido e mais fácil; seja um apaixonado em tudo que faz; evite o modismo com medo de ficar para trás.


Aloísio Sotero é professor de Finanças para Economia Digital e Cofundador e professor da Baex, Escola internacional de Educação para Executivos.

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